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Após 7 meses, médicos apontam avanços no tratamento da covid-19

Embora ainda não possamos considerar a situação controlada, já que não existe um remédio ou uma vacina contra o vírus, com os esforços de cientistas e de profissionais da saúde, que adquiriram experiência nos últimos meses, avanços no atendimento e no tratamento de pacientes com a doença foram notáveis e provavelmente evitaram que o número de internações, complicações e mortes fosse ainda maior. Tudo isso contribuiu para a redução na taxa de hospitalização, diminuindo o risco de o sistema de saúde entrar em colapso nesse momento, o que permite que a vida volte aos poucos ao “normal”.

A seguir, Igor Marinho, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo e Mauro Gomes, chefe de equipe de pneumologia do Hospital Samaritano e professor da FCMSC-SP (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo), ambos com experiência no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), comentam os principais fatores que contribuíram para melhorar o tratamento da covid-19:

Melhor conhecimento da doença

Muitos aspectos da covid-19 ainda são misteriosos, como a falta de olfato prolongada e os odores estranhos que os pacientes relatam sentir meses após a infecção pelo vírus. Mas, com o passar do tempo, os profissionais da saúde já estão familiarizados com a maioria das manifestações causadas pelo vírus, conhecem as fases de evolução e como o organismo costuma combater o invasor.

“Algo que já fazemos constantemente é a avaliação de risco, já que agora se sabe mais sobre as possíveis complicações. Pedimos, por exemplo, exames laboratoriais que indicam se o paciente corre risco de trombose, quadro que pode ser desencadeado pela covid-19. Caso sim, receitar anticoagulante profilaticamente, inclusive após a alta”, explica Gomes.

Outras estratégias específicas também foram adotadas. “Aprendemos que a pronação, técnica que coloca o paciente de bruços para aumentar a quantidade de oxigênio que entra nos pulmões e já é usada no tratamento de outras doenças respiratórias, também funciona para a covid-19”, indica Marinho.

Melhor entendimento da insuficiência respiratória

“Antes, acreditava-se que o paciente que apresentava insuficiência respiratória precisava ser intubado rapidamente. Hoje se sabe avaliar melhor essa necessidade”, indica o pneumologista. De acordo com o médico, métodos como o cateter de alto fluxo e máscaras, que são menos invasivos, funcionam para vários casos.

Compreensão farmacológica

A essa altura, a ciência já sabe que alguns remédios não tiveram a eficácia que se esperava no começo da pandemia, como é o caso da hidroxicloroquina, o que também é importante para prevenir efeitos colaterais desnecessários.

Já um exemplo que demonstra resultados positivos é o uso dos corticoides para pacientes em estado grave. “Mas vale lembrar que os pacientes sem indicação médica para o remédio não devem comprá-lo. Não funciona como profilaxia”, alerta Gomes.

Há, ainda, os que são considerados promissores por parte dos pesquisadores, como o uso de plasma e tratamentos com anticorpos, mas que, por enquanto, não demonstram resultados conclusivos em estudos científicos.

Adoção de protocolos na maioria dos hospitais

Os hospitais têm treinado seus profissionais, de médicos a seguranças, em diferentes níveis, para oferecer um atendimento mais rápido, seguro e eficaz. As recomendações vão de indicar o paciente onde deve-se fazer a triagem, dependendo dos sintomas apresentados, até como colocar e tirar as EPIs (equipamentos de proteção individual) corretamente.

“A educação contribui para a prevenção, então, comparado com o começo da pandemia, já temos um atendimento muito mais rápido e eficiente na maioria dos hospitais. Grandes centros já têm triagens específicas para quem tem os sintomas e também divide áreas do hospital para diminuir o risco de infecção”, indica o infectologista.

Comunicação com a família dos pacientes

Para melhorar o contato e não deixar entes queridos aflitos, muitos hospitais criaram “núcleos de humanização”.

“No início, era uma grande dificuldade conscientizar os familiares que as visitas não eram seguras. Aos poucos, os hospitais criaram estratégia para ligar todos os dias. Muitos serviços já oferecem tablets e smartphones como uma ponte de comunicação”, diz Marinho.